Seria redundante, para dizer o mínimo, falar aqui sobre a saturação dos recursos naturais do nosso planeta — incluindo as fontes energéticas não renováveis —, as mudanças climáticas provocadas pelo nosso sistema econômico, a iminência de uma catástrofe ambiental que pode pôr em risco a própria sobrevivência da espécie humana.
A maior novidade sobre este assunto é o fato de as empresas estarem, finalmente, começando a acordar para a necessidade de adotar práticas mais responsáveis. Isso não aconteceu de um dia para o outro, e menos ainda por um súbito golpe de consciência coletivo (apesar de existirem muitas cabeças no C-level de empresas com preocupações ambientais genuínas). O grande responsável por essa mudança é o ESG, indicador que avalia práticas ambientais, sociais e de governança nas organizações.
Cientes de como todo este cenário de crise ambiental afeta negativamente os negócios e da urgência de uma mudança efetiva, os fundos de investimento já estão tomando ações. A prioridade nos investimentos tem ido para empresas que têm o ESG como ponto central em suas estratégias, e este movimento do dinheiro acaba incentivando as demais empresas a pensarem nos impactos socioambientais das suas operações.
Duas das principais categorias do indicador ESG são o uso de energia e as emissões de carbono. Neste sentido, ações que tocam nas políticas de mobilidade das empresas podem fazer uma grande diferença. E há ótimos exemplos que podemos analisar para inspirar outras mudanças de impacto.
Em Fortaleza (CE), a plataforma Vamo, criada em 2016, está gerando bons resultados. O sistema segue a mesma lógica do compartilhamento de bicicletas. No entanto, em vez de “magrelas”, o que é compartilhado são carros elétricos, que podem ser utilizados pelos usuários cadastrados na plataforma no esquema on demand. Além de não terem que se preocupar com manutenção do veículo e abastecer o tanque (ou carregar a bateria), os usuários ainda têm mais opções de vagas, graças a uma parceria com o poder público local.
A Localiza, operadora de aluguel de carros, investiu na compra de créditos de carbono para compensar as emissões produzidas por suas operações. Assim, a empresa adquiriu créditos que compensam mais de 15,5 toneladas de CO2, o que é suficiente para compensar não só a utilização dos carros da frota, mas também o uso de ar condicionado nos escritórios, energia elétrica e outros.
No setor da aviação, a Embraer assumiu o compromisso de ser a primeira empresa a utilizar combustível da aviação sustentável (na sigla em inglês, SAF). Até 2040, a empresa pretende neutralizar 40% das suas emissões de carbono — das quais, a maior parte deriva da queima do querosene que serve de combustível para as aeronaves.
Já a Pirelli, fabricante de pneus, tem explorado outras fontes de matérias primas que irão substituir o petróleo utilizado para a fabricação da borracha. No centro de pesquisa e inovação do Brasil, a empresa está testando o desenvolvimento de materiais feitos a partir de casca de arroz e celulose.
Empresas do ramo de logística e mobilidade estão no alvo da discussão que envolve os indicadores ambientais, sociais e de governança. Mas, para continuar recebendo investimentos e não sofrerem uma pressão pública por práticas mais sustentáveis, todas as empresas deveriam colocar o ESG no centro da sua estratégia.
Dá para começar de maneiras simples e acessíveis. Um exemplo é instituir uma política de compartilhamento de viagens para os executivos da empresa. Na prática, é mais simples do que parece. Plataformas como a VOLL já oferecem a possibilidade de fazer esse compartilhamento, e a navegação é intuitiva. Além disso, a plataforma emite um relatório de emissões de carbono para todas as viagens que são feitas por meio dela. Com esses dados, fica bem mais fácil calcular qual deve ser a compensação das emissões de CO2.
A adoção de práticas mais responsáveis do ponto de vista social e ambiental é uma urgência e demanda uma mudança de mentalidade dentro das empresas. Olhando para o contexto do seu negócio, o que é possível implementar a curto, médio e longo prazo para fazer parte da solução em termos de uma mobilidade mais sustentável?
* Originalmente publicado no portal Estadão.